Por Stefanny Barbosa
Uma adequada higienização de instalações, equipamentos e utensílios sempre foi essencial para garantir a segurança dos alimentos em estabelecimentos produtores de refeições, e a importância desse ponto aumentou exponencialmente por causa da pandemia da COVID-19. Atualmente sabemos que a transmissão da COVID-19 não ocorre somente por meio do contato direto pessoa a pessoa, mas também pode ocorrer por meio do contato com superfícies contaminadas. Estudos apontam que o vírus pode sobreviver por até 3 horas em plástico e aço inoxidável, superfícies essas muito comuns em estabelecimentos comerciais como restaurantes e padarias, então é crucial reforçar as medidas de limpeza para conseguirmos frear a evolução dessa doença e garantirmos a segurança de nossos clientes, funcionários e fornecedores.
Quando falamos de higienização compreendemos dois processos distintos, mas complementares:
- A limpeza, que é a remoção de partículas visíveis por meio da utilização de detergentes e aplicação de ação mecânica para remoção da sujeira (ou seja, esfregar até a sujeira sair) e
- A desinfecção, que compreende a remoção dos microorganismos patogênicos (com exceção de esporos), geralmente por meio da utilização de produtos químicos como álcool 70%, quaternário de amônia ou solução clorada. A desinfecção pode ser classificada em três níveis, que são:
- Desinfeção de alto nível: eliminação das bactérias, dos fungos, vírus e de alguns tipos de esporos bacterianos por meio da utilização de produtos como hipoclorito de sódio e ácido peracético;
- Desinfecção de nível intermediário: eliminação da maioria dos fungos, bactérias e alguns tipos de vírus lipídicos por meio da utilização de produtos como álcool 70°, quaternário de amônia e hipoclorito de sódio na diluição de 1000ppm de cloro disponível;
- Desinfecção de baixo nível: eliminação da maioria das bactérias por meio da utilização de produtos como o álcool 70°, hipoclorito de sódio na diluição de 100ppm de cloro disponível e o quaternário de amônia.
Existe uma gama de produtos químicos com ação de desinfecção. Um desses produtos é o álcool, que é freqüentemente utilizado em estabelecimentos comerciais por ser um produto acessível e de eficácia comprovada, no entanto somente o álcool 70° é adequado e apropriado para a higienização. Em outras concentrações, como o álcool 46°, não tem ação de desinfecção por conter mais água do que álcool propriamente dito. Já as versões com maior porcentagem de álcool como a 92,6° também não são eficazes, por terem grande concentração de álcool e, como este evapora rapidamente, acaba não conseguindo penetrar no interior das células dos microorganismos e assim, não consegue destruí-los. O álcool é um produto versátil e acessível, no entanto é importante verificar a superfície a ser desinfetada, pois o álcool tende a deixar o acrílico opaco e a ressecar superfícies plásticas.
O quaternário de amônia é outro produto que possui ação desinfetante e é amplamente utilizado em indústrias de alimentos. Ele pode ser utilizado em diversas superfícies promovendo ação bactericida e fungicida, e embora seja um produto com baixa toxicidade, é necessário que seja realizado enxágüe adequado após a sua utilização, removendo totalmente o produto.
Outra alternativa eficaz é a solução clorada, que também possui ação de desinfecção. No entanto a solução clorada deve ser diluída adequadamente, seguindo a recomendação do fornecedor (geralmente impressa no rótulo do produto), uma vez que concentrações muito altas podem ser prejudiciais à saúde e concentrações muito baixas não tem eficácia adequada. Além disso, o cloro evapora rapidamente, então a solução clorada tem uma validade de até 4 horas, sendo que após esse período perde o seu poder desinfetante.
Os três produtos apresentam seus prós e contras, sendo que a escolha deve ser feita levando em conta as especificidades e necessidades do estabelecimento, mas é essencial que, independente do produto escolhido, sejam seguidas algumas orientações de uso.
- Todos os produtos de limpeza utilizados nos estabelecimentos, incluindo os desinfetantes, devem ser devidamente registrados na ANVISA, devem estar dentro do prazo de validade e devem vir acompanhados do rótulo completo e das Fichas de Informação de Segurança para Produtos Químicos (FISPQ), que contém todas as informações referentes uso adequado dos produtos, equipamentos de proteção individual (EPI) necessários para o manuseio e medidas a serem adotadas no caso de acidentes. É essencial que todas as FISPQ estejam disponíveis e que elas sejam consultadas para o uso adequado dos produtos.
- Esses produtos somente têm ação desinfetante em superfícies limpas, ou seja, somente passar o álcool ou o cloro não é suficiente. É preciso que seja realizada primeiro a limpeza da superfície e depois seja realizada a desinfecção com o produto desinfetante. A etapa de limpeza é essencial para garantir a eficácia do desinfetante. Além disso, os produtos devem ser utilizados conforme a recomendação do fabricante, no que diz respeito à diluição, ao tempo de contato do produto com a superfície, às superfícies onde o produto deve ser utilizado, etc.
- Por fim, devem ser fornecidos todos os (EPI) específicos para o manuseio dos produtos desinfetantes, sendo que no caso dos dois saneantes apontados é necessário o uso de luva nitrílica de cano longo.
Todos são responsáveis pela manutenção da limpeza das instalações, equipamentos e utensílios em restaurantes, bares, fábricas e padarias e é essencial que todos os colaboradores envolvidos nos processos estejam orientados e cientes da importância desses procedimentos para conseguirmos garantir a segurança de todos.